quarta-feira, 14 de julho de 2010

Para quem investe no mercado de capitais

15/06/2008

1. Nada novo acontece no negócio de especulação ou investimento no mercado financeiro.
2. Não se consegue fazer dinheiro de forma consistente operando todo dia ou toda semana durante o ano.
3. Não confie na sua própria opinião e detenha os seus julgamentos até que o movimento do mercado confirme sua opinião.
4. Os mercados nunca estão errados; as opiniões frequentemente sim.
5. O dinheiro de verdade ganho na especulação sempre foi com posições que apresentavam lucro logo de início.
6. Enquanto uma ação estiver se comportando correctamente e a análise estiver correta, não tenha pressa em retirar o lucro.
7. Nunca se deve permitir que experimentações especulativas tomem o aspecto de investimento.
8. O dinheiro perdido com especulação em si é muito pequeno comparado com as quantias gigantescas perdidas pelos assim-chamados investidores que deixaram seus “investimentos” de lado.
9. Nunca venda uma ação só porque ela parece ter subido demais.
10. Nunca compre uma ação só porque a mesma teve uma forte queda depois de sua última alta.
11. Eu me torno comprador tão logo uma ação faça uma nova alta em seus movimentos, após ter apresentado uma reação normal.
12. Nunca faça média com prejuízos.
13. O lado humano de cada pessoa é o maior inimigo do investidor ou especulador comum.
14. Não é bom ficar curioso demais acerca das razões por trás dos movimentos dos preços.
15. Todo pensamento de se auto-iludir deve ser banido.
16. Grandes movimentos levam tempo para se formar.
17. É muito mais fácil tomar conta de alguns do que de muitos.
18. Se você não consegue tirar dinheiro das principais actividades que se apresentam, então não vai tirar dinheiro do mercado de um modo geral.
19. Os líderes de hoje podem não ser os líderes daqui a dois anos.
20. Não se torne totalmente baixista ou altista em relação ao mercado todo só porque uma ação dentro de um grupo em particular reverteu plenamente o seu curso da tendência geral do mercado.
21. Poucas pessoas conseguem ganhar dinheiro com dicas. Cuidado com informações de fontes internas. Se houvesse dinheiro fácil jogado por aí, ninguém iria colocá-lo à força dentro do seu bolso.

Por: Jesse Livermore

Adaptado por Bancotario

História da Análise Técnica

15/06/2008


Análise Técnica - O que é? Quanto vale?


Charles Henry Dow e a sua teoria


O tão conhecido e atual índice de referencia Dow Jones pode nos transportar ao inicio da Analise Técnica, quando em 1900 o homem que lhe deu origem, Charles Henry Dow elaborou os primeiros trabalhos estatísticos acerca da existência de ciclos no mercado de capitais.

Em 1879 Charles Dow entra para a impressa noticiosa Kiernan News Agency, uma agencia que escrevia direcionada para bancos, casas de corretagem e "Research", altura em que conheceu Edward D. Jones que também acaba de ser admitido naquela agencia.

Três anos mais tarde, em 1882, Charles Dow e Edward Jones criam a firma Dow Jones & Company, na 15 Wall Street. Distribuíam um “Newsletter” diário de duas paginas sobre o mercado de capitais intitulado "Customer’s Afternoon Letter" por toda a Wall Street.

Em 1889, Dow era o editor da primeira edição do "Wall Street Journal" impulsionado pela antiga "Newsletter” acima referido. Publicava na altura vários artigos sobre o mercado de capitais seguidos com atenção por toda a comunidade financeira e a partir dos quais desenvolveu a "Dow Theory".

Em 1897, Charles Dow, com 46 anos, co-fundador da Dow Jones & Company, Inc. criou os hoje conhecidos Dow Jones Industrial Average e Dow Jones Transportation Average. Originalmente, na "Dow Theory", a tendência destes índices, constituídos por um determinado numero de ações de referencia, serviam como barômetro para o resto do mercado.

A "Dow Theory" foi a mãe da Analise Técnica como resultado de enumeras experiências e observações das cotações históricas. Se inicialmente a intenção não era prever os preços das ações, rapidamente, num trabalho subseqüente a teoria foi aproveitada para esse fim, resultando no que conhecemos hoje da Analise Técnica.

Charles Dow foi o primeiro a comparar as variações das cotações com as vagas do mar. Desta metáfora podemos retirar que existem duas tendências, a da “maré” ascendente e descendente. Há depois vagas que podem confirmar ou corrigir a tendência.

Para Dow existem três movimentos simultâneos: As tendências de longo prazo, ascendente ou descendente em períodos de um a vários anos; Correções á tendência de longo prazo em períodos de semanas ou meses; Oscilações diárias, nomeadas assim a tendência primária, secundária e menor (desprezível), respectivamente. O mercado fica assim comprometido com três tendências. Na tendência primária o mercado pode estar ou "Bullish" ou "Bearish", se o mercado fizer sucessivamente mínimos e máximos maiores estará num processo ascendente a tendência primaria é "Bullish", se inversamente fizer máximos e mínimos menores esta numa tendência descendente, "Bearish".

A mudança da tendência só se valida se, depois de vários movimentos, os níveis da cotação não ultrapassarem os alcançados anteriormente, definindo assim um nível de resistência para a tendência ascendente ou suporte para tendência descendente.

A tendência secundária é uma correção á tendência, é o momento em que o vendedor ou comprador alivia permitindo uma saudável correção ao mercado (é usual ouvir-se dizer hoje em dia, com ou sem razão, que a secundária é o chamamento de investidores ao mercado - na venda ou na compra consoante a tendência, para permitir a “tendência” vender ou comprar a preços melhores ou então permitir que os investidores que não tiveram oportunidade de entrar ou sair o consigam fazer agora a preços mais apetecíveis), normalmente pode durar entre três semanas a três meses e corrige normalmente de 1/3 a 2/3 do movimento anterior na tendência primária.

A tendência menor ou diária é feita pelas pequenas oscilações diárias e normalmente não ultrapassa o período de uma semana, usualmente situa-se dentro da tendência secundária e é o resultado de pequenos desencontros da oferta e da procura dentro da tendência, por vezes é sujeita a alguma manipulação ou contrario das tendências primárias ou secundárias o¬nde a força, o período, o volume envolvidas durante esse período não permite tais atos.

A tendência de longo prazo, tendência primária, é dividida em três momentos: Quando ocorre uma mudança da tendência primária estamos perante um movimento de acumulação caso aconteça depois de uma tendência descendente ("Bearish") ou um movimento de distribuição caso aconteça depois de uma tendência ascendente ("Bullish"), no intervalo temos a entrada da massa.

Num primeiro momento, os investidores especialmente bem informados em antecipação ao movimento de longo prazo acumulam não deixando que a cotação atinja novos mínimos com um provável pequeno aumento de preço, no segundo momento, os compradores melhores informados, face a não confirmação de novos mínimos e por isso uma inversão de tendência, entram no mercado comprando ações e elevando bastante o seu preço, num terceiro momento, com as acções a permitirem um excelente ganho, a massa desperta, o publico sente-se confortável para entrar no mercado que esta a subir, convencidos que o só o céu é o limite compram desenfreadamente e com elevados aumentos de volume os acumuladores distribuem abastecendo a massa. Só no fim desta tendência é que o publico descobre que pagou caro e tenta liquidar rapidamente a sua posição entrando em pânico e fazendo mercado cair.




O QUE É A ANÁLISE TÉCNICA?


Uma rocha é uma rocha ou pode ser a explicação da origem da terra.

Quem ouve falar pela primeira vez no termo Analise Técnica pensa em algo complicado para o que é a mais básica e simples aproximação ao mercado de capitais. O analista técnico simplesmente estuda os preços das ações para obter um melhor resultado de investimento.

Academicamente podemos definir a analise técnica como um conjunto de técnicas que tentam prever o movimento das cotações apoiadas em gráficos que representam o movimento histórico das cotações (sendo por isso também conhecida por analise gráfica ou grafismo) e em técnicas analíticas de previsão das oscilações bolsistas, baseadas em modelos matemáticos, estatísticos e econométricos.

Para a escola técnica toda a informação esta espalhada nos gráficos, os gráficos sabem tudo. Os gráficos traduzem o comportamento do mercado e avaliam a participação de massas de investidores que influenciam a formação dos preços.

O preço de mercado representa um consenso. É o preço a que um investidor aceita vender e outro aceita comprar dentro das suas expectativas. As expectativas dos investidores relativamente a determinado valor são espelhadas na cotação. Para os analistas técnicos, o comportamento dos investidores já suficiente para uma tomada de decisão, não importa os motivos que levam os investidores a esse comportamento. O analista técnico acredita que toda a informação necessária esta contida no preço (e algumas vezes no volume) e que todos os fenômenos se podem explicar pelo movimento dos preços. O preço esta para o analista técnico como a rocha para o geólogo, para a maior das pessoas uma rocha não passa de uma rocha, para um geólogo uma rocha pode ser a chave do conhecimento da origem da terra e pode responder e prever inúmeros acontecimentos da Geo. Os preços para o analista técnico, como a rocha para o geólogo, pode ser a chave para o conhecimento da origem de determinado movimento e pode responder e prever a evolução futura. Os fatos reproduzem-se nos preço e identificar o ritmo dessas reproduções permite antecipá-los.

Se o preço é baseado nas expectativas dos investidores, então o conhecimento sobre o que se deve comprar ou vender torna-se irrelevante quando se conhece o que outros investidores esperam para vender. Ou seja, se conhecemos o prêmio ou desconto que os investidores esperam face ao “valor justo” da ação saberemos o futuro movimento da ação. A expectativa pode ser conhecida replicando nos gráficos movimentos (expectativas) passados.

Analise técnica vale o que vale, assunto que trataremos no capítulo seguinte, no entanto, talvez pela sua simplicidade vs. eficiência, a analise técnica tem cada vez mais adeptos, mas continua a ser um modo de analise muito criticado e contestado, principalmente pelos paladinos da teoria financeira moderna.

Algumas teorias põem em duvida a utilidade da análise técnica para a tomada de decisões consideram que as variações dos preços constituem uma variável aleatória. A “Random Walk Theory”, por exemplo, pressupõe a negação da tendência bolsista, considerando que as mudanças sucessivas da cotação dos valores são estatisticamente independentes uma das outras e aproveitando-se da hipótese do “Mercado eficiente” que diz que o os valores formados pelo mercado constituem uma boa estimativa do valor intrínseco ou real dos títulos e assume-se que todos os participantes no mercado têm perfeito conhecimento de todos os elementos que influenciam o funcionamento deste e que qualquer informação nova é imediatamente descontada, considera que nenhum investidor tira vantagem do preço e não se encontra em melhor posição que outro visto que o mercado de capitais eficiente desconta imediatamente toda a informação que o afeta.

Evidentemente que o que interessa ao analista técnico não é o valor real da ação, mas o valor a que pode vender ou comprar no tempo futuro. Uma máxima que mostra a pouca importância do valor real para o analista técnico e evidencia a importância da expectativa dos agentes do mercado é “Buy High and Sell Higher”, assim, dentro do pensamento do analista técnico não é importante a teoria do mercado eficiente, do passeio aleatório, ou outra semelhante, para o analista técnico o importante são as expectativas do investidor face ao valor, justo ou não, da ação e essas expectativas podem ser conhecidas pelos valores passados, pois muitos investidores constroem essas expectativas em referencias de movimentos acontecidos, se pensamos na importância das resistências e suportes, que explicamos mais a frente, facilmente compreendemos a base de todo o pensamento do analise técnica.





QUANTO VALE UMA ANALISE TECNICA?

Analise técnica e a tendência da massa

A AT serve para confirmar idéias ou não e dar sinais de entrada e saída. AT deve ser encarada como uma ferramenta que nos indicam quando devemos comprar ou vender, que nos confirma o movimento e momento ideal do “trading”, em resultado de determinado movimento de preços. A AT não serve como modo de avaliação da empresa que representa ação, para isso existe a AF.

A AT é melhor a olhar para o passado do que para o futuro.

A Escola Técnica afirma que não existe estatísticas para esperança, humor, medo, ganância, atos de Deus (dos Governos, estimativas e necessidades e informação secreta). É verdade, não existem e por isso é que a AT não é tudo, é por isso que é falível, é por isso que serve apenas para confirmar movimentos e indicar os momentos do mercado/ação e não para traçar uma estratégia com base na avaliação da empresa.

A Tendência é da massa e a massa emociona-se, tem medo, é gananciosa, tem esperança e etc., por isso é que diz que a tendência da massa é errar. A AT funciona com base na analise das emoções, das expectativas e dos receios dos intervenientes em determinado movimento que se refletem na cotação, mas, sempre, isenta dos sentimentos da massa, das emoções, da ganância, da esperança, do medo e etc.

O analista técnico deve seguir somente o que o gráfico lhe diz e não o que a sua mente, por contagio com a massa, lhe quer fazer ver. Ainda que se possa dizer que a AT reflete e desconta a “saúde” do activo em avaliação nos gráficos, a verdade é que a AT nem necessita conhecer a empresa, as noticias relacionas ou os fundamentais. Para um analise fundamental, o preço das ações de uma empresa podem subir ou cair, até mais de 50%, que isso não implica que os seus fundamentais tenham sido alterados. Mas para AT, mesmo que os fundamentais continuem a seres os mesmos, é certo que as expectativas dos intervenientes, mudaram e isso refletisse nos movimentos registrados nos gráficos. Na AT conta o preço do ativo, na AF o preço da empresa.

É importante conhecer a psicologia das massas para melhor avaliar as Tendências do mercado. Um dos papas da análise de massa, Gustave Le Bon, escritor francês que diz que a massa é emocionável, impulsiva, violenta, inconsistente, extremamente descuidado, características que considera de um perdedor no mercado de ações.

Le Bon define a massa como um conjunto qualquer de indivíduos com mentalidade coletiva diversa daquela que têm como pessoas. Ele afirma que, ao se agrupar como uma massa, o ser humano perde a personalidade consciente, adquire sensação de grande poder, dá vazão aos instintos, perde a noção da responsabilidade, comunica-se por contagio (vende a "idéia" aos amigos), aumenta impetuosamente (aumenta o volume por isso é que se da a exaustão), é facilmente sugestionável (quando corre por contagio qualquer sugestão cria indecisão e desconfiança na estratégia, o investidor não acredita no sistema, esta a duvida e não cumpre as regras, não é disciplinado e rapidamente muda de opinião sem saber muito bem porque), é intelectualmente inferior (não pensa, reage com a vontade da massa), desce diversos degraus na escala da civilização (perde o raciocino), pensa que raciocina e não raciocina (é sugestionável), aceita imagens desconexas, tem idéias contraditórias ao mesmo tempo (é influenciável), cria imagens via palavras-de-ordem, aceita frase curtas como solução dos problemas (IPOS, FUSÕES, Crash e etc.), sintetiza aspirações pessoais (vai ser opaba para eu ficar rico e comprar o iate e o castelo).

A massa erra. A Tendência da massa é errar e a AT diz isso, ora vejamos:

Para a escola técnica, a resposta está nos gráficos de preços e volumes, que não é nada mais nada menos do que analisar a massa, a emoção, ganância, medo e etc. que a move.

Os investidores especialmente bem informados, pela famosa informação secreta, ou movidos por qualquer intenção compra sem dar nas vistas e com calma, com um pequeno aumento de preço. FASE DE ACUMULAÇÃO.

Os investidores especialmente bem informados contagiam outros investidores bem colocados, amigos e etc., a que chamaremos compradores melhor informados que aderem ao mercado elevando o preço do papel (MARK UP) de tal maneira que desperta a atenção da ESTÚPIDA massa. O mercado fica ativo e os acumuladores distribuem a ação abastecendo a massa (Distribuição) - (melhor altura para vender), depois de tudo abastecido e dos preços se manterem nos mesmo patamares, com a massa a comprar e a segurar e os acumuladores a vender e a travar a subida, a massa nota que o papel não vai continuar a subir e descobre que pagou caro procurando vender imediatamente a ação que não compensou o investimentos entrado no pânico.

Na analise técnica existem vários tipo de gráficos, desde os gráficos de velas, os mais vulgarizados, ao gráfico ponto e figura, o meu preferido, que despreza o espaço temporal retratando apenas os preços aos quais a ação foi negociada, sem levar em conta o dia de negociação, mas identificando com precisão a reversão da tendência dos preços.

Podemos selecionar um grupo de ações para negociar com base nos fundamentais, sectores, mercados ou outra premissa, mas, vamos ver que, em 99.99% das nossas decisões, a AT é quem melhor nos dará o sinal de entrada e de saída. Não defendo que se deva ser um purista da AT, porque penso que devemos ter em conta a tendência do sector e, porque não, os próprios fundamentais, mas não devemos definitivamente desprezar a AT que é quem nos diz quando comprar/vender. Ou seja, se a análise fundamental nos diz o que comprar/vender a AT diz-nos quando. Evidentemente que alguns puristas da Análise Fundamental podem ter um sistema que lhes permita bons resultados, mas estou convencido que, com o tempo, esses resultados não se vão manter, porque o que interessa, mais do que o valor da empresa, é a vontade do capital em mover-se e esse se move por vontade do medo, ganância, pressupostos e expectativas dos investidores.

A Analise Técnica deve ser usada por aqueles investidores que se querem situar entre os investidores bem informados (insiders) e a massa, e mesmo os primeiros devem utilizar a AT. Um investidor por muito bem informado que esteja (insider trading) sobre um fato relevante de uma empresa, senão comprar no momento correto, pode mesmo perder. Imagine-se uma noticia positiva para um titulo que será do conhecimento geral do publico apenas dentro de 3 meses e com um esperado impacto positivo de 5% no titulo. Se a tendência desse papel for negativa, pode chegar a cair mais do que os 5% que se espera de impacto positivo quando o “inside” for tornado publico. Assim, apesar da informação privilegiada do “insider”, esta não lhe vai servir se ele não souber o melhor momento para entrar.

A idéia de que todos os fenômenos podem explicar através das leis naturais é muito antiga, já tendo sido encovada por Anaxárogas, pensador pré-socrático. A idéia é que determinadas circunstancias e fatores podem reproduzir-se e conseguir identificar o ritmo destas reproduções permite antecipar. A AT baseia-se no que é realmente é mais importante e tem-se vindo a defender ao longo deste capitulo é a massa, a psicologia da massa. A melhor maneira de tirar proveito da massa é conhecer o que ela pensa e para isso é necessário pensar como a massa, reagir como a massa (sem reagir efetivamente), ter as emoções da massa e fazer exatamente o contrario. É aqui o verdadeiro problema do "trader/investidor", quando não consegue separar o pensamento dele do pensamento da massa.

Não há peritos nem ignorantes, há aqueles que sentem o mercado, estão no mercado, absorvem o mercado e conseguem estar suficientemente longe para tomarem as suas decisões sem serem influenciados pela massa. Ë aqui que Analise Técnica é um ferramenta fundamental, permitindo separar os sinais da massa da própria massa. Ou seja, analisam os movimentos dos preços sem se deixarem influenciar emocionalmente por eles.

Keynes defendia que quem nada sabe ganha tanto como o perito isto porque o perito que acredita que um ativa esta subavaliado não terá interesse em adquirir e se pensar vender terá de o fazer ao preço fixado pelos ignorantes. Na verdade só ganha àquele que antecipar os sinais que ele próprio produz o do preço. O preço pode oscilar bastante e por isso é incerto dai que a melhor maneira será imitar os outros. Mas é porque todos se conformam com essa idéia de imitar os outros (ex.: "MARK UP") que se pode dizer que a massa tem tendência a errar. Quantos mais acreditarem e exteriorizarem essa crença maior é a probabilidade de não acontecer.

A AT é uma ferramenta que, sem dúvida, consegue antecipar os movimentos e é valida e importante por isso. Conhecer o mercado e o estado psicológico do mercado é importante para se conhecer o melhor momento de entrada e saída, mas, é sempre importante nunca esquecer que um investimento deve ter em conta a capacidade de um ativo para remunerar no futuro a renuncia ao consumo.

Caos

O mercado de capitais não é simples, alias podemos dizer que é um CAOS. O mercado de capitais desenvolve-se em ciclos. Contudo, tal uma escada espiral, quando o curso dos acontecimentos completa um circulo, fá-lo a outro nível. O “movimento pendular” das mudanças não se limita a repetir os mesmos acontecimentos vezes sem conta. Um desses ciclos em espiral é o CAOS a dar lugar à ordem, que, por sua vez, origina novas formas de caos.

Entende-se que a Análise Técnica, neste ciclo de oscilação do pêndulo, serve para domesticar o caos e não destruí-lo o que poderá acontecer se utiliza isoladamente para uma ação sem se tomar em conta a tendência geral do mercado ou do sector.

Assim como natureza, os fenômenos metrológicos por exemplo, a AT tem muitas regularidades que podem ser registradas, analisadas, previstas e exploradas. No entanto não podemos encarar a AT como uma lei única e determinante por si só para uma ação isolada, não serve explicar um determinado movimento da cotação de um titulo com a implicação dessas leis e esquecer o mercado/sector, pois seria o mesmo que recolher dados metereológicos e fazer uma previsão esquecendo completamente o local as suas características. O mundo não é mecânico, porque é que o movimento isolado de um titulo o seria?

O movimento das ações, assim como acontece com a natureza, é determinado por um conjunto de variáveis e fatores. Acontecimentos fundamentais, como a desintegração de um átomo radioativo ou a negociação em estado de “ex-dividend”, passam a ser determinados pelo acaso, não por leis precisas e imutáveis. Já Einstein numa carta a Max Born, punha em causa o determinismo da lei face ao caráter aleatório do acaso.

O ciclo completa-se, mas a um nível diferente, já que começamos a descobrir que sistemas que obedecem a leis precisas e imutáveis nem sempre se comportam de modo regular e previsível. Leis simples podem não produzir comportamento simples e por isso não podemos pensar num mercado simples. Ë neste momento que devemos pensar para lá da Analise Técnica como apresentam alguns analistas técnicos, pura, simples e determinista. Alguns analistas técnicos tornam a analise tão determinista que essa ordem pode gerar o CAOS. Leis deterministas podem produzir o comportamento que parece aleatório. Então devemos utilizar a AT com um conjunto de soluções que nos permitam flexibilizar essa lei determinista e preparar-nos para eventuais erros. Sendo que primeiro, o importante é saber COMO a cotação de um titulo faz determinado movimento e não tanto saber SE o faz. Depois de analisarmos e descobrimos como faz a cotação de um titulo determinado movimento, temos de partir para lá da AT. E a altura de estabelecer “planos” de ação concretos e objetivos, determinando como agir e que decisões a tomar, no acaso de o movimento da cotação não fazer como, normalmente, faz e, no caso, de o movimento da cotação fazer como faz. Falamos, evidentemente, de “stop loss”, “stop trailing” e “Price Objective”.

Os conceitos de previsão, ou de uma experiência re-iterável, assumem novos contornos quando vistos pelos olhos do CAOS e é aqui que vamos aproveitar para mostrar a importância de ir mais além à AT. O que pensamos ser “simples” e “puro” torna-se complicado, e novas e perturbadoras interrogações se levantam a propósito de dimensões, de previsibilidade e de verificação ou falsificação de teorias. Em contrapartida, podemos tornar o complicado em simples, pois os fenômenos que parecem aleatórios e desprovidos de estrutura ou sentido podem, de fato, obedecer a leis simples. O caos determinista tem as próprias leis. Isso esta, por exemplo, na meteorologia, na irregularidade da pulsação cardíaca, no gotejar de uma torneira, no partir de um copo no chão e por ai fora.

Analise Técnica pode gerar resultados positivos enquanto a sua existência e compreensão estiver enquadrado na vontade do “cérebro humano”. Já dizia Eugene Wigner, que escreveu sobre a “eficiência da irracionalidade matemática”, “Talvez a matemática seja eficiente ao representar a linguagem subjacente ao cérebro humano. Talvez os únicos padrões de que nos apercebemos sejam matemáticos por ela ser o INSTRUMENTO DA NOSSA PERCEPÇÃO. Talvez seja eficiente a organizar a existência física porque é inspirada por existência física. Talvez não existam padrões reais, mas apenas aqueles que nós, de espírito fraco, impomos.”. É neste contexto que a Analise Técnica de uma determinada ação não pode ser separada do mercado/sector, que é a parte “física” do sistema. Analise ao mercado/sector é a parte o nde podemos percepcionar a vontade real da massa, do modo como a as expectativas do conjunto de investidores vão influenciar o modo de o investidor ver o titulo e conseqüentemente vender ou comprar e levar a cotação a seguir determinado sentido, movido por linguagem humana o nde entra o sentimento, o medo, ganância e etc.

Analise técnica é uma maquina gigantesca

A AT é um maquina gigantesca, funcionando como o “mecanismo de um relógio”, para representar o auge em fiabilidade e perfeição mecânica. Sob tal perspectiva, a AT (uma maquina) é, acima de tudo, previsível. Em condições idênticas um analista técnico, assim como um relojoeiro que conheça as especificações da maquina e o respectivo estado em qualquer momento particular pode calcular exatamente o que fará. Mas na verdade existem variações de estados que impossibilita determinar exatamente o que fará apenas com o conhecimento das especificações da maquina

“Uma inteligência que num dado momento conhecesse todas as forças que animam a Natureza e as respectivas posições das entidades que a compõem, se fosse capaz de submeter os dados a análise, poderia condensar numa única fórmula o movimento dos maiores corpos do universo e do menor átomo; para tal a inteligência nada seria incerto, e o futuro, tal como o passado, estaria presente diante os seus olhos.” – Teoria de Laplace

Esta teoria de Laplace é o mesmo que dizer que conhecendo os diversos indicadores que representa o movimento de uma ação, sabendo como cada um deles reage, podemos prever o movimento da cotação desde o momento que estamos analisar ao momento que acabamos, ou seja, de um modo mais ambicioso, conhecidas as posições, as tendências, os estocásticos, MACDs e etc., num determinado instante, todos os movimentos subsequentes da cotação desse titulo em analise são singularmente determinados.

Esta afirmação pressupõe, por simplicidade, que não há influências exteriores ao movimento do titulo. Se considerarmos também esta, somos obrigados a concluir que as posições e velocidades de cada partícula que matéria no universo inteiro, tomadas num instante particular, determinam completamente a sua evolução futura. O universo segue um caminho dinâmico único e predeterminado.

Esta conclusão aterradora é, na verdade, conseqüência de um simples teorema matemático de unicidade.

Por esse motivo não podemos ver a Analise Técnica de uma forma isolado e determinista, mas sim usá-la para avaliar o movimento da cotação de um titulo, como indicador do momento e tendência, dentro de uma estratégia de “trading” bem definida (“stops” e “targets”) e dentro do mercado o nde se encontra. A analise do gráfico de uma forma pura e isolada, pode dar bons resultados mas senão usada dentro de uma estratégia bem definida e regida, cumprida com disciplina, não acredito que os resultados sejam consistentes.

Podemos efetivamente utilizar a AT, ou melhor, devemos utilizar a AT para encontrarmos um determinado conjunto de informações que nos permita tirar uma melhor rentabilidade dos investimentos conhecendo o momento de entrada e saída e a direção a tomar. Mas, tão importante ao mais, é estabelecermos um “trading plan” que deve ser cumprindo e respeitado em todos os momentos. Devemos definir antecipadamente um “stop loss” e um preço objetivo que devemos ter a disciplina para cumprir, de forma a cortar o mais rapidamente as perdas e deixar correr o mais possível os ganhos. Desta forma, mesmo que um sinal técnico nos conduza a uma decisão que se vá traduzir num mau resultado, essa decisão nunca vai ser errada dentro do conjunto das decisões do “trading plan”. Uma decisão com resultados maus vai fazer parte das decisões com ganhos bons e vice-versa. Ou seja, os “stop loss” vão limitar os maus resultados de uma decisão e deixar correr os bons resultados de uma outra decisão, desta forma vamos conseguir explorar o mais possível essa decisão e obter excelentes resultados.

Num “trading plan” não há mas decisões, mas sim e apenas decisões com bons ou maus resultados. Por isso a disciplina, que é uma questão de gestão de risco, deve ser encarada seriamente e cumprida religiosamente, ao ponto de podermos dizer que nunca nos enganamos.

Não é ousado dizer que nunca nos enganamos se cumprirmos a risca o “trading plan”, porque o que estamos a fazer é cumprir o estabelecido, não cumprir é que seria o erro e, estou certo, daria resultados desastrosos. As decisões dentro de um “trading plan”, por muito tentador que seja não cumprir, tem de ser respeitadas. O “trading plan”, ainda mais do que AT em si, permite distanciarmo-nos da emoção e da massa. Se executarmos corretamente o “trading plan” vamos evitar vender antes do tempo só pelo sentido natural de querer obter ganhos imediatos, vamos evitar esticar o trade demais só pela ganância, vamos evitar acumular perdas só porque não queremos assumir um trade perdedor e por isso ate acreditamos que vai subir, vamos evitar vender porque estamos com medo. Afastamos as “bolhas” e os “panic sell”, assim como outras emoções normalmente perdedoras. Mesmo que a determinada altura, num momento particular, verifiquem que o vosso “feeling” teria batido o “trading plan”, lembre-se da seguinte analogia:

1 - Tem à sua frente um conjunto de 10 caixas individuais. Nesse conjunto, 9 caixas contem um gás de tal maneira venenoso que se aberta a caixa o gás o matara instantaneamente e 1 caixa com bilhete de loteria premiado. Faziam-lhe a proposta de abrir uma das caixas e ficar com o conteúdo. O que faria? Certamente não aceitava a proposta e, apesar do aliciante prêmio, não tentaria abrir nenhuma caixa correndo o risco de morrer. Mesmo que o seu “feeling” apontasse a sua escolha para uma determinada caixa, que, posteriormente se viesse a verificar ser a que tinha o bilhete de lotaria premiado, é isento de duvida que, mesmo assim, tomou a decisão correta.

2 - Agora, noutro cenário, com o mesmo conjunto de caixas, só que substituindo o gás letal por uma pequena multa fácil de pagar. O que faria? Certamente aceitava a proposta e, apesar das pequenas multas, abriria uma caixa tentando ganhar a lotaria. Mesmo que abrisse a caixa que tem a multa, é também aqui isento de duvida, que tomou a decisão correta.

Vemos que, em qualquer dos cenários, apesar da sua decisão não ter dado bons resultados, foi, inequivocamente, a decisão correta. O mesmo acontece quando se cumpre criteriosamente o “trading plan”, apesar dos resultados de uma decisão poderem ser francamente maus, a decisão é sempre correta.

Um analista técnico é como um meteorologista

Um analista técnico é como um meteorologista que consegue prever o tempo, mas prever não quer dizer que preveja exatamente e corretamente. Certamente que já lhe aconteceu sair de casa num dia que se lhe anunciava um belo dia de sol e apanhar uma valente chuvarada.

A analise técnica pode-se comparar a meteorologia, pois permite ao analista técnico, do mesmo modo que o meteorologista prevê o tempo, prever a oscilação dos preços.

A previsão numérica do tempo (sentindo meteorológico) e da oscilação dos preços são descritos atribuindo determinados indicadores, Estocástico, Pressão, CCI, temperatura, MACD, umidade, RSI, velocidade do vento. Estes são alguns indicadores da AT e da Analise metereológica.

O tempo, a cotação, correspondem a uma posição num grande jogo de números, mas a disposição desse números é sempre diferente. Podemos medir o tempo e o movimento das cotações usando estações meteorológicas, CCIs, navios, “candles”, balões, medias e etc. Portanto sabemos como dispor os números. O problema é: QUAIS SÃO AS REGRAS DO JOGO.

As regras são as equações do movimento da atmosfera e das cotações.

Condensando o tempo, digamos num espaço de um segundo, as equações podem ser vistas como regras que nos dizem como obter a posição dos números no próximo segundo. Por isto a AT e a meteorologia são importantes para determinar que posição tomar num determinado título, qual a melhor altura para plantar batatas.

O mercado de capitais é como atmosfera, só que em vez de ser constituída por uma serie de pequenos átomos em movimento, que colidindo uns com os outros alteram o seu movimento e comportamento, é constituído por uma serie de pequenos intervenientes (investidores) em movimento colidindo os interesses de uns com o dos outros.

Da mesma maneira que nem um computador pode seguir cada átomo particular da atmosfera, a AT não pode seguir cada investidor particular e com vontade própria e por isso o numero de variáveis envolvidas no modelo é, de longe, demasiado grande para um computador, para um analista, para a análise técnica.

Evidentemente se fosse possível seguir cada átomo era possível saber com exatidão o tempo que ira fazer, da mesma forma que se fosse possível seguir cada investidor saberíamos exatamente qual o movimento das cotações, pois era simplesmente matemático, o que acontece, saberíamos que B vende X a Y de Z e por isso o movimento seria facilmente conhecido.

Por haver esta variedade é que a análise técnica, assim como a meteorologia, em determinado momento não consegue adivinhar determinados movimentos. Ambas falham por não conseguirem não prever, ou seja, a analise técnica e a meteorologia, com base numa serie de dados, só conseguem prever o que poderá acontecer mas são inúteis quando se pretende prever o que não se prevê.

São vários os casos em que a meteorologia, que facilmente podemos transportar para o ambiente da análise técnica, falha. Há na historia da meteorologia casos em que esta falhou redondamente na previsão de certas catástrofes, algumas vezes, porque estatisticamente era quase impossível determinados acontecimentos, ignoraram outros dados, não estáticos, como a sensibilidade (como conhecimento milenar dos povos, mecanização do cérebro como reação a certas condições), noticiais e um sem numero de outro avisos. Como é o exemplo de uma povoação o nde raramente chovia e, apesar das noticias que davam contam de uma tempestade próxima, a meteorologia apenas previa sol com a possibilidade de alguns aguaceiros e negavam qualquer possibilidade de tempestade porque estatisticamente nunca, naquela terra, tinha acontecido uma intempérie semelhante.

Na analise técnica, estatisticamente podemos prever certos e determinados movimentos, mas por vezes, essa mesma estática, não nos deixa ver mais além, da mesma maneira que não deixou que os meteorologistas acreditassem na tempestade que as noticias davam conta que se poderia estar a deslocar para a tal povoação, ou seja, se para além do meteorologista prever os aguaceiros o conhecimento da envolvente (mercado/sector) e da tempestade que passava próximo poderia alertar para a eventualidade de esta catástrofe afetar essa terra, da mesma maneira que se estivermos atentos a ao movimento do mercado e do sector, poderemos estar alerta para eventuais movimentos, com sinais que nos devem ser confirmados pela AT.

Vemos aqui e com este exemplo, que apesar de o gráfico poder indicar claramente um certo movimento, do mesmo modo que os sinais metereológicos previam apenas pequenos aguaceiros, o analista técnico deve observar claramente o mercado e o sector o nde o titulo se movimenta e decidir também em função disso. Na meteorologia estes sinais seriam as reações dos animais e das pessoas a certas condições atmosféricas e etc. Por fim, o Analista Técnico tem de se precaver para a eventualidade da analise técnica/estatística estar errada e o “aguaceiro” ser mais do que uma “tempestade”. Mais uma vez vemos a importância do “trading plan”.


Texto recebido por email de Octávio Viana - Think Finance


Adaptado por Bancotario

Crashes - Breve Resumo

26/04/2008


Em tempos de Bolhas Imobiliarias...

Tema fascinante e igualmente trágico, os Crashes são um dos aspectos mais carismáticos e marcantes dos mercados. Raros e com diversos formatos, existem, no entanto algumas concepções erradas do que é um Crash e de qual a sua frequência...

O que é um Crash?

Um Crash é uma queda abrupta e muito significativa nos mercados não existindo um critério claro sobre o valor mínimo a partir do qual poderemos considerar que se trata de um Crash: há quem defenda que terá de ter uma queda num só dia de pelo menos 8 ou 10% e quem defenda que no global terá de haver uma queda de pelo menos 20% num curto espaço de tempo, sendo que abaixo desse valor toma normalmente o nome mais discreto e menos sonante de correção.

Os Crashes são normalmente, produto de uma euforia desmedida e de uma prolongada fase de ascensão exagerada e irracional nos mercados que dá pelo nome de Bolha. Ou seja, por norma o Crash é o resultado natural da Bolha sendo, no entanto que é muito imprevisível o quando e o como e de um Crash.

Vale a pena ainda sublinhar o período que dá pelo nome de Bear Market, nalguns casos associado ainda a uma situação de depressão econômica, um período que tende a arrastar-se no tempo, por vezes por dois ou três anos, com quedas lentas, más diárias e quase constantes que poderão acabar por ser tão ou mais dolorosas do que o próprio Crash em si.

Se há uma característica associada aos Crashes essa característica dá pelo nome de pânico. É o denominador comum de todos os Crashes e a sua característica mais marcante. As vendas sucessivas e descontroladas que originam avalanche é produto do pânico dos investidores.


O Crash das Tulipas (1634-1637)

É provavelmente o primeiro Crash minimamente documentado. Passou-se, imagine-se, em pleno Século XVII na Holanda, más já nessa altura podemos encontrar as características habituais dos Crashes modernos e não deixa de ser, do ponto de visto histórico, extremamente interessante recordá-lo e compará-lo com os Crashes dos mercados modernos.

A Bolha das Tulipas iniciou-se com a sua importação da Turquia a partir dos finais do Século XVI quando, entretanto a flor foi atacada por um vírus que não a matou más antes começou a produzir novos padrões, que variavam de Tulipa para Tulipa produzindo assim um artigo raro, procurado e apetecido.

Assim e talvez não muito surpreendentemente conhecendo a natureza dos mercados e a irracionalidade que pode atingir os investidores, a cotação das Tulipas começou a subir de tal forma que a dada altura havia investidores dispostos a desfazerem-se de todas as suas poupanças de uma vida ou mesmo dos seus terrenos e das suas casas para adquirir mais Tulipas quando não para adquirir uma única Tulipa, sempre no pressuposto de que a(s) venderiam mais tarde a um preço mais elevado. Num só mês chegaram a registrar uma valorização de 20 vezes!

Em determinado momento os investidores mais prudentes começaram a desfazer-se do seu espólio provocando uma correção no valor das Tulipas e não tardou surgiu o efeito de avalanche característico dos Crashes. O que começou por uma correção mais do que justificada a tanta irracionalidade em torno de um produto de valor subjetivo, más cuja avaliação tinha atingido valores perfeitamente irracionais não tardou e transformou-se em pânico com os investidores a vender a qualquer preço aquilo que tinham comprado a peso de ouro, não que fossem movidos por uma repentina crise de racionalidade, más por puro e simples pânico.

Os efeitos deste Crash foram tão profundos que acabou por se transformar numa depressão econômica...


O Crash de 29 (Outubro 1929)

Sem dúvida o mais famoso e marcante Crash da história cujos efeitos de depressão subsequentes se fizeram sentir fortemente durante mais de três anos.

A queda iniciou-se a 3 de Setembro de 1929 más fez-se sentir em particular durante o mês de Outubro - mês que a partir de então tem estado ligado a vários períodos negros dos mercados - e ainda notavelmente durante o mês de Novembro. O mercado só pararia de cair, no entanto em Julho de 1932 atingindo uma queda global de aproximadamente 90%.


A Bolha deveu-se, sobretudo ao desenvolvimento industrial e à proliferação e democratização dos transportes. Estes eram o correspondente direto à Internet da década de 90 e a tudo o que se lhe associou. Mais uma vez a irracionalidade atingiu os investidores que a partir de certa altura estavam dispostos a arriscarem todas as suas economias sem conhecer nem os riscos associados aos mercados nem o que exatamente estavam a comprar.

Na fase final da Bolha e em particular durante o ano de 1929 ocorreram diversas correções ou mini-crashes, más o mercado conseguia sempre recuperar destes movimentos e partir para novos máximos.

Isso terminou a 3 de Setembro de 1929 quando o mercado iniciou uma correção da qual não mais recuperou.

Ora, aqui vale a pena assinalar uma das características dos Crashes e sobre a qual existem alguns equívocos: a mensagem que passa correntemente é a de que os Crashes se dão no pico da Bolha não sendo, no entanto exatamente assim. O Crash inicia-se normalmente como uma correção que em nada se distingue de muitas outras que provavelmente ocorreu antes o que torna ainda os Crashes mais difíceis de diagnosticar até ser demasiado tarde.

E foi assim que ocorreu a partir do dia 3 de Setembro de 29 quando o mercado iniciou então uma correção como outras tantas que tinham ocorrido anteriormente quer em 28 quer durante esse mesmo ano de 29.

O que começou por uma mera e natural correção não tardou a transformar-se em drama. Antes disso, o mercado viria a realizar um mínimo relativo a 4 de Outubro para encetar um falso arranque que terminou a 11 desse mês com um máximo relativo inferior.

O mercado foi incapaz de realizar novos máximos!

O drama propriamente dito inicia-se a 21 de Outubro com a primeira sessão de quedas realmente fortes e anormais. O segundo dia mais característico e um dos mais importantes do Crash ocorreu a 24 de Outubro, sessão que fica então marcada pelo valor Record de ações transacionadas (o triplo do record anterior à data) e que passou a ser conhecido desde então como «Quinta-Feira Negra», Black Thursday.

As sessões mais terríveis ocorreriam após o fim de semana a 28 de Outubro - o dia de maior queda deste Crash com 12.8% e conhecido desde então como «Segunda-Feira Negra de 29», Black Monday - e com a «Terça-Feira Negra», Black Tuesday, a 29 de Outubro, a segunda maior queda, praticamente gêmea da do dia anterior com 11.7%...

A terceira pior sessão deste período dramático ocorreria a 6 de Novembro, a quarta pior de sempre na história do Dow Jones.

O mercado teria a primeira de muitas recuperações inconsequentes apenas em Dezembro desse ano. Um sinal falso de esperança que só terminaria a Julho de 1932. No final, os mercados tinham sido esmagados por um peso de 90% de desvalorização. Verdadeiramente aterrador e sem paralelo na História dos Crashes americanos...


O Crash de 87 (Outubro 1987)

Trata-se do maior Crash dos tempos modernos e o detentor do record da maior queda num único dia: 22.6% no Dow Jones no espaço de cerca de 6 horas, a 19 de Outubro de 1987 (igualmente conhecida como «Segunda-Feira Negra», Black Monday).

No entanto é ao mesmo tempo para muitos autores o Crash menos justificado e mais incompreendido de todos, o mais atípico e ao qual esteve associado pouco pânico, principalmente se tivermos em conta a sua violência.

Acontece que este Crash teve uma faceta até então desconhecida dos mercados e da História dos Crashes: foi significativamente amplificado pela execução automática de ordens pelo que muitos investidores venderam «ao preço da chuva» sem terem consciência que o tinham feito. Na verdade nem sequer, em muitos casos, deram qualquer ordem deliberada nesse sentido ou sabiam, nem que aproximadamente, a que preços estavam a vender.

Não deixa de ser, no entanto curioso que o produto final, em termos gráficos, tenha acabado por ser bastante semelhante ao Crash de 29.


Porém, neste caso e por razões particulares, a queda concentrou-se na sua maior parte numa única sessão eclipsando os trágicos records de 1929.

Convém sublinhar que a SEC (Securities and Exchange Comission) nasceu com o Crash de 29 por ordem de Franklin Roosevelt sendo uma das suas funções prevenir futuros Crashes entre outras práticas fraudulentas. E durante algum tempo pensou-se que o mercado estaria livre de novos Crashes.

No entanto e por maior que fosse o esforço por parte da SEC para fazer chegar aos investidores informação clara sobre as empresas, esta não tinha qualquer controlo sobre a irracionalidade dos investidores como mais tarde se veio a verificar. Durante a década de 80 viveu-se de novo um período de euforia, época essa em que começou a surgir pela primeira vez a noção de «Nova Economia», noção aliás que viria inclusivamente a sobreviver ao Crash de 87 e a perdurar pela década de 90.

Muito sucintamente, o topo dos mercados foi realizado a 25 de Agosto de 87 e tal como em 29 iniciou-se então uma correção aparentemente inofensiva. A 21 de Setembro o mercado realizava um mínimo relativo e encetava um falso rallye que, de forma extremamente semelhante ao que ocorreu em 29 não foi capaz de trazer o índice para novos máximos. A 5 de Outubro de 1987 o mercado realizava um máximo relativo inferior que tem paralelo com o dia de 11 de Outubro de 1929.

A História repete-se: o mercado foi incapaz de realizar novos máximos.


Iniciava-se então o período mais dramático com o clímax na sessão de 19 de Outubro e uma outra sessão digna de registro (a sexta pior da história do Dow Jones) a 26 de Outubro.

Nos períodos mais dramáticos deste Crash os investidores chegaram a não ter qualquer idéia de que a que preços estavam a vender as suas ações dado que as ordens eram geradas automaticamente (ordens de stop loss) e sem qualquer restrição.

O mercado conseguiu livrar-se desta vez de uma depressão - cujo mérito histórico cabe a Alan Greenspan - e quanto aos sistemas, foram introduzidos novos mecanismos por forma a interromper as ordens geradas automaticamente a partir do momento que o mercado atinge um determinado nível de queda, normalmente conhecidos por períodos de consolidação de ofertas. A partir de certo ponto, previamente definido, o título é suspenso obrigando a um período de consolidação, interrompendo as ordens automáticas e dando tempo aos investidores para que tenham conhecimento e consciência de que a que preços estão a tentar vender as suas ações.



O Mini-Crash de 97 (Outubro de 97)

Não merece nesta Breve História dos Crashes mais do que uma menção honrosa, pois não constituiu um verdadeiro Crash, más antes um Mini-Crash.

As razões para não ser tratado convencionalmente como um Crash prendem-se com a sua situação particular: os seus efeitos foram de curta duração, pois o mercado viria a recuperar rapidamente deste Crash e a partir para novos máximos. Isto é, ao contrário de outros Crashes, maiores e mais dignos desse nome, este não marcou o final de uma Bolha, antes surgiu a meio dela.

A pior sessão ocorreu a 27 de Outubro de 1997 más os seus efeitos foram bastante limitadas em grande medida pelas medidas introduzidas nos Sistemas após o Crash de 1987.

Na verdade e tornando evidente como este Mini-Crash difere dos restantes aqui apresentados, o maior período de exuberância ocorreu precisamente no período que se lhe seguiu (98 e 99).


O Crash das Dot-Com (2000)

O mais recente Crash de todos é também o mais prolongado e disforme. Mais do que um Crash tratou-se de um Bear Market severo, muito severo (muito embora o termo Crash também se lhe aplique e seja efetivamente usado para descrever este período).


Durante a década de 90 e já depois do Crash de 87 e de uma depressão evitada recuperou-se a noção de «Nova Economia», noção essa que nunca tinha feito tanto sentido como então com a proliferação sem precedentes da Internet.

Sem se aperceberem de que estavam a embarcar numa euforia tão justificada como tantas outras anteriores e que a Internet eram tão revolucionária quanto a Revolução Industrial do fim do Sec. XIX e início do Sec. XX, o mercado embalou na Bolha das Dot-Com. O Bull Market culminaria em Março de 2000 e no Bear Market que então se iniciou o índice do Nasdaq viria a sofrer uma desvalorização de perto de 80% até Outubro de 2002.

No Nasdaq em particular as semelhanças da década de 90 com a década de 20 no Dow bem como os 3 anos de Bear Market subsequentes em ambos os casos apresentam semelhanças dignas de registro.

O topo foi realizado em Março de 2000, no entanto o período mais dramático fez-se sentir entre 1 de Setembro de 2000 e 2 de Janeiro de 2001: neste período de cerca de 4 meses o Nasdaq depreciou-se em quase 50%, ou seja, mais de metade da desvalorização de todo o Bear Market concentrou-se nestes 4 meses.

Algumás das piores fases surgiriam ainda com o 11 de Setembro de 2001 e no Verão de 2002 na seqüência do escândalo Enron, já na ponta final do Bear Market. A este título convém, no entanto referir que algo semelhante se passou com o Bear Market pós-29 naquilo que é hoje conhecido como capitulação: um derradeiro clímax vendedor que marca o fim do Bear Market.


A Imagem de Marca de um Crash

Algumas concepções-chave valerão a pena sublinhar no que aos Crashes diz respeito:

> Os Crashes realmente considerados como tal contam-se pelos dedos de uma mão: tratam-se, portanto de eventos extremamente raros. Existe uma tendência para banalizar o termo Crash, más este é tido como a descrição para determinados e específicos momentos na História dos mercados. Um pouco mais freqüentes são os Mini-Crashes (como o de 97 e mais uma meia-dúzia de situações ao longo do Séc. XX) e as vulgares correções, por vezes violentas, que antecedem os Crashes propriamente ditos;

> Os Crashes podem chegar com várias formas e feitios, más caracterizam-se essencialmente por serem precedidos por uma Bolha (um período de euforia e valorizações irracionais) e seguidos de um período de Bear Market. O Crash propriamente dito não é algo de que o mercado recupere facilmente. No seu ponto alto, o pânico é o denominador comum;

> Os Crashes não são períodos que se isolem facilmente no tempo, arrastam-se por norma por várias sessões - destacando-se é claro algumas sessões mais marcantes - e dá-se, não exatamente a partir do pico más, por norma, após uma primeira correção semelhante a tantas outras, tornando-se extremamente difícil identificar o início de um Crash até ser demasiado evidente e, também em grande medida, demasiado tarde.


Uma nota final: este não pretende ser um artigo exaustivo sobre Crashes, más, tal como indica o título do artigo uma breve história dos principais Crashes da história dos mercados.

Recebido por email em meados de 2007.


Fonte : Caldeirão de Bolsa - Editado por Bancotario